O CAFÉ
“Acorda, toma um café, penteia esse cabelo e saiba que você não precisa de mais ninguém para ser feliz. O mundo é seu.” Caio Augusto LeiteA Terra Roxa - “A Província de São Paulo”- 02/12/1876
[...] É natural que uma tão vistosa
superioridade desperte em todos
os brasileiros a mais viva curiosidade e
provoque o justo desejo de saber quais
os elementos, que dão a São Paulo essa
brilhante e invejável perspectiva. [...]
A filosofia da terra roxa! Não se assustem
os srs. fazendeiros, [...].
Quero simplesmente colocá-los em estado de
responder às incessantes objeções
e aos pedidos de informação que nos chegam
de fora da província.
A minha tese é a seguinte: a província de
São Paulo é o que é na
atualidade, graças simplesmente à sua terra
roxa. [...]. (Barreto, 1876)
Estou seriamente endividado para contigo,
em cartas, livros, cumprimento de promessas, pedaços de queijo... Mas explica-se a má finança. O
mês de dezembro passei-o todo fora daqui, em S. Paulo e no Oeste. Corri as linhas da Paulista, Mogiana e Sorocabana,
com paradas nas inconcebíveis cidades que da noite para o dia o Café criou - S. Carlos,
um lugarejo de ontem, hoje com 40 mil almas; Ribeirão Preto, com 60 mil; Araraquara, Piracicaba a
formosa e outras. Vim de lá maravilhado e todo semeado de coragem nova, pois em toda a região da Terra Roxa
-um puro óxido de ferro - recebi nas ventas um bafo de seiva, com pronunciado sabor de riqueza latente. Em Ribeirão, a colheita do município foi o
ano passado de 4 e meio milhões de arrobas -coisa fabulosa e nunca vista. Um fazendeiro, o
Schmidt, colheu, só ele, 900.000 arrobas. Costumes, hábitos, idéias, tudo lá é diferente destas nossas
cidades do velho S. Paulo e da tua Minas. Em Ribeirão dizem que há 800 “mulheres da vida”,
todas“estrangeiras e caras”. Ninguém “ama” ali à nacional. O Moulin Rouge funciona há 12 anos e importa champanha e
francesas diretamente. A terra-chão, porém, é uma calamidade
-”enferruja”, isto é, avermelha todas as pessoas e coisas, desde a fachada das casas até o nariz dos
prefeitos. Vai um pacotinho de amostra. Não pense que é tinta, não. Lá ninguém mora; apenas estaciona para
ganhar dinheiro. Esse meu passeio de 3.453 quilômetros de via férrea buliu muito com as minhas
idéias.
[...] Eu mesmo gostaria de firmar-me por lá
[...] Estou tentando ser nomeado para Ribeirão Preto...
(carta de Monteiro Lobato para seu amigo Rangel - 1950 pp.)
A lenda do café: Não
há evidência real sobre a descoberta do café, mas há muitas lendas que relatam
sua possível origem. Uma das mais aceitas e divulgadas é a
do pastor Kaldi, que viveu na Absínia, hoje Etiópia, há cerca de mil anos. Ela
conta que Kaldi, observando suas cabras, notou que elas ficavam alegres e
saltitantes e que esta energia extra se evidenciava sempre que mastigavam os
frutos de coloração amarelo-avermelhada dos arbustos existentes em alguns
campos de pastoreio. O pastor notou que as frutas eram fonte de alegria
e motivação, e somente com a ajuda delas o rebanho conseguia caminhar por
vários quilômetros por subidas infindáveis.
Kaldi comentou sobre o comportamento dos animais a um monge da região, que decidiu experimentar o poder dos frutos. O monge apanhou um pouco das frutas e levou consigo até o monastério. Ele começou a utilizar os frutos na forma de infusão, percebendo que a bebida o ajudava a resistir ao sono enquanto orava ou em suas longas horas de leitura do breviário. Esta descoberta se espalhou rapidamente entre os monastérios, criando uma demanda pela bebida. As evidências mostram que o café foi cultivado pela primeira vez em monastérios islâmicos no Yemen.
Kaldi comentou sobre o comportamento dos animais a um monge da região, que decidiu experimentar o poder dos frutos. O monge apanhou um pouco das frutas e levou consigo até o monastério. Ele começou a utilizar os frutos na forma de infusão, percebendo que a bebida o ajudava a resistir ao sono enquanto orava ou em suas longas horas de leitura do breviário. Esta descoberta se espalhou rapidamente entre os monastérios, criando uma demanda pela bebida. As evidências mostram que o café foi cultivado pela primeira vez em monastérios islâmicos no Yemen.
As grandes fazendas de café: As plantações de
café foram fundadas em grandes propriedades monoculturais trabalhadas por
escravos, substituídos mais tarde por trabalhadores assalariados: as grandes
fazendas de café. Estas fazendas ficaram famosas por sua arquitetura típica e
seus equipamentos. Tanques em que o grão é lavado logo depois da colheita,
terreiros para secagem, máquinas de seleção e beneficiamento fazem parte desse
ambiente. A senzala dos escravos ou colônias de trabalhadores livres finalizam
a caracterização das fazendas cafeeiras. A fazenda de café, desde a semente até
a xícara, era um pequeno mundo, quase isolado. O desenvolvimento da produção
cafeeira esteve intimamente relacionado com a quantidade de mão-de-obra
disponível. Para incentivar a produção de café, a administração do Estado de
São Paulo fez da questão imigratória o projeto central de suas atividades,
estabelecendo um sistema que oferecia auxílio formal à imigração européia,
principalmente à italiana. Por meio de um programa que
cuidava da propaganda em seu país de origem, os imigrantes eram trazidos desde
seu domicílio na Europa até a fazenda de café. A imigração ajudou na conquista
de áreas ainda não exploradas, permitindo rápido desenvolvimento do Estado de
São Paulo.
Com a mão-de-obra imigrante a cultura ganhou impulso e durante três quartos de século, quase toda riqueza do país se concentrou na agricultura cafeeira. O Brasil dominava 70% da produção mundial e ditava as regras do mercado. Nessa época os fazendeiros de café se tornaram a elite social e política, formando umas das últimas aristocracias brasileiras. A opulência dos plantadores de café permitiu a construção dos grandes e bonitos casarões das fazendas e de mansões na cidade de São Paulo e financiou a industrialização no sudeste do país.
Série de imagens do Portal São Francisco
Com a mão-de-obra imigrante a cultura ganhou impulso e durante três quartos de século, quase toda riqueza do país se concentrou na agricultura cafeeira. O Brasil dominava 70% da produção mundial e ditava as regras do mercado. Nessa época os fazendeiros de café se tornaram a elite social e política, formando umas das últimas aristocracias brasileiras. A opulência dos plantadores de café permitiu a construção dos grandes e bonitos casarões das fazendas e de mansões na cidade de São Paulo e financiou a industrialização no sudeste do país.
Série de imagens do Portal São Francisco
Os terreiros de café das fazendas da região.
A Crise de 29: A
quebra na bolsa de Nova York em outubro de 29 foi um golpe para a estabilidade
da economia cafeeira. O café não resistiu ao abalo sofrido no mundo financeiro
e o seu preço caiu bruscamente. As lavouras de café enfrentaram a verdadeira
dimensão do mercado. Nesse processo, milhões de sacas de café estocadas foram
queimadas e milhões de pés de café foram erradicados, na tentativa de estancar
a queda contínua de preços provocada pelos excedentes de produção.
Quando a economia mundial conseguiu se
recuperar do golpe de 1929, o Sudeste do país voltou a crescer desta vez com
perspectivas lastreadas na cafeicultura e na indústria, que assumia parcelas
maiores da economia. O café retomou sua importante posição nas exportações
brasileiras e, mesmo perdendo mercado para outros países produtores, o país
ainda se mantém como maior produtor de café do mundo.
Das suas épocas áureas, ainda nos restam as
belas sedes das fazendas coloniais, um extenso material técnico-científico,
plantações centenárias e o hábito nacional do cafezinho.
Fato noticiado no jornal O Município em 1934. Arquivo do Museu M.
O café brasileiro
na atualidade: Atualmente o Brasil é o maior produtor mundial de
café, sendo responsável por 30% do mercado internacional de café, volume
equivalente à soma da produção dos outros seis maiores países produtores. É
também o segundo mercado consumidor, atrás somente dos Estados Unidos.
As
áreas cafeeiras estão concentradas no centro-sul do país, onde se destacam
quatro estados produtores: Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Paraná. A
região Nordeste também tem plantações na Bahia, e da região Norte pode-se
destacar Rondônia.
A produção de café arábica se concentra em São Paulo, Minas Gerais,
Paraná, Bahia e parte do Espírito Santo, enquanto o café robusta é plantado
principalmente no Espírito Santo e Rondônia.
O Café no Brasil
Prof.º Leonardo Castro
O desempenho da economia durante
o Primeiro Reinado e a Regência foi marcado por dificuldades, com os preços do
açúcar, algodão, fumo, arroz e couro em baixa. Para superar tais dificuldades,
o governo buscou pelo incentivo a produção de um produto novo. Esse produto foi
o café – a Coffea arábica –, já difundido na América e na Ásia. O café
entrou no Brasil no início do século XVIII pela região Norte, trazido das
Guianas ao Estado do Pará, e aos poucos se espalhou pelo país. Mas foi nas
primeiras décadas do século XIX que seu cultivo impulsionou, no Rio de Janeiro,
nas áreas do Vale do Paraíba. A expansão cafeeira logo atingiu São Paulo e
Minas Gerais.
Essa expansão apoiou-se em condições favoráveis
existentes: demanda crescente pelo produto no mercado internacional (Estados
Unidos e Europa) e disponibilidades de recursos no Brasil – terras, escravos,
equipamentos e meios de transporte.O Trabalho nos cafezais após a Abolição: A produção do café se estabeleceu na estrutura da economia agrícola de tipo plantation, ou seja, a grande propriedade escravista, monocultora e exportadora. Assim, inicialmente foi utilizada a mão-de-obra escrava do africano nos cafezais.
Quando foi proibido o tráfico negreiro pela Lei Eusébio de Queiroz (1850), e a mão-de-obra escrava começou a escassear, substituiu-se o trabalho servil pelo trabalho assalariado de imigrantes estrangeiros.
Na região cafeeira, os imigrantes foram aproveitados para
trabalhar na lavoura do café, trabalhando como mão-de-obra assalariada ou sob
alguma forma de parceria – quando a produção é repartida entre o colono e o
fazendeiro.
A imigração européia para o Brasil teve seu ápice o período de 1880 e 1930. Os imigrantes supriram a lavoura do trabalho necessário. Nos cafezais, todos trabalhavam: homens, mulheres e até crianças.
No início do século XX, vieram também asiáticos, chineses e japoneses. Em relação aos japoneses, o Kasato Maru é considerado pela historiografia oficial o primeiro navio a aportar no Brasil com imigrantes japoneses, em 18 de Junho de 1908. Chegou ao Porto de Santos trazendo 165 famílias, que vinham trabalhar nos cafezais do oeste paulista.
A imigração européia para o Brasil teve seu ápice o período de 1880 e 1930. Os imigrantes supriram a lavoura do trabalho necessário. Nos cafezais, todos trabalhavam: homens, mulheres e até crianças.
No início do século XX, vieram também asiáticos, chineses e japoneses. Em relação aos japoneses, o Kasato Maru é considerado pela historiografia oficial o primeiro navio a aportar no Brasil com imigrantes japoneses, em 18 de Junho de 1908. Chegou ao Porto de Santos trazendo 165 famílias, que vinham trabalhar nos cafezais do oeste paulista.
Opulência e devastação
ambiental: O sucesso do café foi decisivo para melhorar as condições
econômicas do país e solidificar o núcleo do poder do Império, formado pelas
oligarquias agrárias do Sudeste. O café gerou recursos e atraiu novos capitais
para outros investimentos em atividades não-agrícolas de mercado interno, tanto
de infra-estrutura como de consumo. Em São Paulo, o café promoveu o período da Belle
Epoque.
Os sinais de prosperidade da riqueza do café ficaram evidentes nas melhorias de infra-estrutura no Rio de Janeiro e São Paulo, sobretudo pela introdução sistemática das ferrovias, um meio de transporte mais rápido e barato para os negócios dos cafeicultores. A cafeicultura também gerou uma grande diversidade nos negócios e atividades econômicas: surgiram fabricas de tecidos, ferramentas e bebidas; fundições, bancos, companhias de navegação, empresas de serviços de água, gás, iluminação e transporte urbano.
Os sinais de prosperidade da riqueza do café ficaram evidentes nas melhorias de infra-estrutura no Rio de Janeiro e São Paulo, sobretudo pela introdução sistemática das ferrovias, um meio de transporte mais rápido e barato para os negócios dos cafeicultores. A cafeicultura também gerou uma grande diversidade nos negócios e atividades econômicas: surgiram fabricas de tecidos, ferramentas e bebidas; fundições, bancos, companhias de navegação, empresas de serviços de água, gás, iluminação e transporte urbano.
Trens e ferrovias eram símbolos da modernidade gerada
pela riqueza do café. 1907.site O Café no Brasil
Esses negócios resultavam da aplicação pelos cafeicultores
de parte dos lucros obtidos com suas atividades. Mas foi também resultado da
presença cada vez maior do capital estrangeiro, sobretudo de investidores ingleses.
Os cafezais foram responsáveis
pela opulência e riqueza da aristocracia brasileira, sobretudo a de São Paulo,
mas também o avanço das fazendas de café sobre o território brasileiro promoveu
a intensificação da devastação da Mata Atlântica na região sudeste e sul, sendo
a principal responsável pela destruição total da vegetação nativa, deixando uma
área muito pequena para a preservação de espécies. Em São Paulo, por exemplo,
com o desmatamento de até 150 mil hectares por ano, a cobertura vegetal nativa
do estado caiu à metade no início do século XX.
Devastação da Mata Atlântica em São Paulo. Em 1500, o
Estado de São Paulo era constituído pela Mata Atlântica, mais de 80 % de seu
território era de floresta. No início do século XXI, a Mata Atlântica
encontra-se reduzida a 7% de seu território.
Imagens Portal de São Francisco
Terreirão onde o café era secado 1920/1930. Fotógrafo: Theodor Preising
colheita
do café pelos colonos italianos (1911).
No
terreiro, o café era periodicamente revirado para se obter uma secagem uniforme
e amontoado e coberto ao cair da tarde — com palha e posteriormente com lonas —
para protegê-lo do sereno da noite ou quando ameaçava chuva. No dia seguinte,
com o sol já bem alto e o terreiro já aquecido, repetia-se a operação.
(Difícil não nos lembrarmos dos terreiros de café da nossa infância. Podíamos ver os colonos trabalhando num vai e vem constante e, aos poucos, o café secando e mudando de cor).
O “café
em coco”, seja por que processo tenha sido tratado, estava pronto para ser
“beneficiado”, o que acontecia no “engenho de café”.
O café descascado era limpo, escolhido, ensacado (em
sacos de 60 kg) e embarcado, através de tropa de mulas e depois por ferrovia,
para os portos intermediários, alguns fluviais, que existiam ao longo da costa
paulista e fluminense, e daí aos portos exportadores, fundamentalmente Santos.
O Cel. Ataliba Leonel (que deu nome à estação) era
grande proprietário de terras de café na região. Foto de 03 de outubro de 1906.
No dia 03 e 04 de novembro de 1934, o jornal O Município publicou notas sobre o falecimento do Sr Ataliba Leonel.
Em janeiro
de 1892, faleceu em 1892 em Hamburgo (Alemanha) o adiantado
comerciante Theodor Wille, chefe da importante firma Wille,
Schmillinski e Cia., da praça do Rio de Janeiro, e da Theodor Wille
e Cia., de Santos e da Capital, sendo que a mesma firma era
estabelecida com loja de fazendas e armarinhos por atacado, no
prédio situado no largo do Ouvidor, esquina da Rua José Bonifácio nº
2.
O mesmo comerciante Theodor Wille residiu no Brasil por muitos anos, sempre cercado da estima e da consideração gerais, graças às suas belas qualidades de espírito e de coração. Amigo que era, e dos mais sinceros, do Brasil e dos brasileiros, Theodor Wille jamais deixou de socorrer os deserdados e desprotegidos, sendo essa sua norma de ação, reveladora de um coração nobilíssimo, seguida pelos seus sucessores, constituindo uma das mais belas e gloriosas tradições dos chefes da firma Theodor Wille nos dias atuais.
Em 1844, Theodor Wille fundou em Santos a sua importante e acreditada casa comercial, que leva a glória imorredoura de exportar para a Europa a primeira saca de café da então Província de São Paulo, que veio hoje a ser o empório desta cultura.
Por carta patente do Governo Imperial de 5 de dezembro de 1844, foi Theodor Wille confirmado no cargo de vice-cônsul da Prússia no porto de Santos, havendo o marechal Manoel da Fonseca Lima e Silva, então presidente da Província, cumprido a referida carta-patente, expedindo, em data de 12 de junho de 1845, as competentes participações às respectivas autoridades para que o reconhecessem como tal e o deixassem servir no mesmo cargo na forma ordenada pelo referido Governo Imperial.
Ensacamento para exportação, no auge do ciclo do café.
(imagem wikipedia)
Concurso para carregamento de Sacas
Queima do Café
Colheita
Sacas de café no Porto de Santos
Embarque no Porto de Santos
No dia 03 e 04 de novembro de 1934, o jornal O Município publicou notas sobre o falecimento do Sr Ataliba Leonel.
Propaganda do Café Brasileiro:
A crise do café e a
valorização
O rápido crescimento da
produção de café no Estado de S. Paulo, originou uma crise no comercio
desse produto, afetando aos plantadores. Inundados os mercados com o
produto paulista, os estoques cresceram e os preços baixaram, causando
grandes prejuizos. De 1886 a 1896, os preços do café haviam atingido de 70
a 132 francos por 50 quilos, no Havre (Ainda hoje, Le Havre é o maior
porto importador de café do mundo ).
Mas a colheita de 1897-98, mais abundante, elevou
subitamente o estoque mundial a cinco e meio ou seis milhões de sacas. Em
conseqüência, veio uma forte baixa nos preços, baixa que se tornou mais
sensível depois da colheita de 1901-2, quando o estoque mundial subiu a
11.305.000 sacas. Em 1908, já os preços tinham baixado9 a 30 francos por
50 quilos.
Então a situação dos agricultores paulistas chegou a ser
extremamente difícil: o seu trabalho não era suficientemente remunerado e
estavam na iminência de abandonar parte das plantações. Nessas condições
foi que, em setembro de 1905, uma floração extraordinária dos cafeeiros,
favorecida por excepcionais circunstancias climáticas, anunciou uma
colheita enorme.
Uma produção formidável, calculada em 17 milhões de sacas,
ia afluir para Santos. O pânico dominou então os plantadores, que se viram
ameaçados pela ruína completa, estando impossibilitados de resistir á nova
baixa, por falta de capital.
Diante desse perigo que afetava inclusive as receitas
publicas, foi o governo do Estado obrigado a intervir, em socorro dos
agricultores. Ele negociou com os Estados de Minas Gerais e do Rio de
Janeiro um acordo destinado a combater a crise do café.
Esse acordo, firmado em 26 de fevereiro de 1906, uma
segunda feira, na cidade de Taubaté, ficou popularmente conhecido pela expressão
Convenio de Taubaté.
O convênio de Taubaté (1906) valorizou sem limitar.
Este, o erro da política de retenção dos estoques e preço alto, boa
parte o pais produtor, enquanto "controlasse" o mercado, absurda
quando (estimulada pelas cotações crescentes) se apresentasse a
concorrência, derrubando no excesso da oferta todos os cálculos.
Assim aconteceu em 1929. Guardar para as safras magras, segundo o
critério bíblico, era simples. Outros fatores, porém, incidem nas
lavouras tropicais; o farto se seguiria um de escassez. Se
invariável o ritmo, o sistema de Taubaté não sofreria objeções. Na
hipótese da superprodução, com o "enjôo" das praças compradoras,
cairia por terra, com os seus complementos de financiamento e
crédito. No principio, tudo correu às maravilhas. 1890 foi o boom
paulista. A saca de de café valia 100 mil-réis! Seguira-se a
depressão... Exportávamos 10 milhões de sacas em 1899 (quase o dobro
de 89), 11 em 1905, em 1920 14, em 1928 um pouco menos, o que vale
dizer que as remessas mantiveram uniformidade, sem embargo do
aumento do consumo. Em quatro anos foi resgatado o empréstimo de 15
milhões esterlinos garantidos pela União (base do convênio) e podia
São Paulo levantar mais 7 e meio milhões (liquidáveis até 1923) para
continuar a manobra.
Em 1917 o governo federal entrou, com lucro, no mercado, para
armazenar 3 milhões de sacas; e em 1920 (tomando 25 mil contos no
país e 4 milhões de libras em Londres) repetia a intervenção
defensiva, confiada, em 1922, a um instituto permanente. Reverteu
dois anos depois à administração paulista.
Proteger o café era socorrer a nação, a quem dava dois terços do
ouro de sua balança comercial. Estremecera, a nação e o seu
principal negócio, com o crack da bolsa de New York.
Acumularam-se duas grandes colheitas. Isto (23.324.000 sacas!)
quando havia estoques sem colocação e se propunha, para
remediar a pletora, a eliminação dos saldos... Desandou o preço; e o
governo.
Triunfante a revolução em que a crise tivera a sua parte (o
"general café"), o Ministro José Maria Whitaker, representando o
pensamento conservador de São Paulo, empreendeu a defesa pelo
equilíbrio estatístico. Adquiriu a União 17.500.000 sacas. A taxa de
10, depois de 15 shillings, financiou a redução e - em
monstruosas fogueiras - a queima do excedente. Só não era selvagem,
essa operação simplista, porque era universal, num estranho tempo em
que se destruíam, com o mesmo propósito de equilíbrio, videiras na
França, rebanhos na Austrália, máquinas na Inglaterra ... Proibiu-se
o plantio.
Queima de café no Estado de São Paulo
Queima de café no Estado de São Paulo
Café
sendo embarcado para ser jogado no mar
Café
sendo jogado no mar
Blocos de café, para serem utilizados como combustível.
Estoques de café supérfluos para outros fins
O que tinha de artificial a política limitativa estourou,
em forma de corrida às terras roxas, mal o restabelecimento
econômico dos Estados Unidos - a que se seguiu a alta, peculiar à
expectativa de guerra - repercutiu no mercado brasileiro. Seria utópico
impedir a multiplicação das fazendas ao espraiar a "onda verde" pelos
solos propícios, como, em 1870, à roda de Ribeirão Preto. Nem se
restringiu ao Norte do Paraná. Atirou-se a Goiás e Mato Grosso. Com o
séqüito de civilização itinerante, o fenômeno de cidades improvisadas, em
que correm as avenidas pelos roçados da véspera, numa rápida montagem de
instalações precárias, a lembrar a Califórnia dos " pioneers"
- com o trabalho barato dos trabalhadores deslocados das zonas pobres do
Nordeste pelas modernas rodovias... Pelo roteiro do café - como no século
passado - continuaram a brotar núcleos prósperos, que amiúdam as malhas da
rede de circulação, para lá dos caminhos tradicionais do Sul e do Oeste:
numa conquista metódica de vales e planaltos, em direção à despovoada e
imensa fronteira. Permanecia com a qualidade original, de bandeirante.
Nova crise feriu o café em 1957 e comprometeu-lhe a posição mundial em
1958. Até então, tivera o Brasil a liderança da exportação (em 1957, 42 %
da importação norte-americana e 32% da européia). Dela tirou (naquele ano)
61% do volume global de divisas provenientes das vendas externas.
É como se disséssemos (confirmando) que sobre essa coluna
repousa o suprimento nacional de moeda estrangeira, ou seja, o câmbio.
Enquanto os máximos produtores fossem os paises latino-americanos (a
Colômbia, já com 20% da importação norte-americana), não se modificariam
os dados do problema. A partir porém de 1950, os territórios africanos
começaram a produzir café em ampla escala. Em 1946 os Estados Unidos lá
adquiriam 420 mil sacas; em 1957, 3.200.000, ou seja, de 2% a 15% do seu
consumo.
Por sua vez o Mercado Comum Europeu comprou na África 34%
da sua importação (em 1957). Esses 9 milhões e 100 mil sacas derramadas
nas linhas de distribuição contribuíram - como um fator explosivo - para o
caráter depressivo da economia cafeeira na América Latina. Não
constituem, porém, a razão fundamental da angústia que a assoberbou.
Origina-se da complexidade das relações internacionais nesta época de
choque das mentalidades agrária e industrial, do nacionalismo econômico,
baseado na auto-suficiência, da interrupção dos processos clássicos de
intercambio no dirigismo, na valorização, na planificação daquela economia
perturbada.
Marcos Institucionais
Devido à importância do café nas exportações brasileiras, foi
criado, em 1931, o Conselho Nacional do Café (CNC), que, em 1933,
foi substituído pelo Departamento Nacional de Café (DNC), autarquia
federal subordinada ao Ministério da Fazenda, que controlou o setor
até 1946. Em 1952, foi criado o Instituto Brasileiro do Café (IBC),
formado principalmente por cafeicultores, que definiu as diretrizes
da política cafeeira até 1989.
Após a extinção do IBC, foi criado, em 1996, pelo Governo Federal, o
Conselho Deliberativo de Política do Café (CDPC), vinculado ao
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e que tem a
finalidade de formular as políticas públicas concernentes à
produção, comercialização, exportação e marketing, bem como de
estabelecer um programa de pesquisa agronômica e mercadológica para
dar suporte técnico e comercial ao desenvolvimento da cadeia
agroindustrial do café.
O CDPC foi criado a partir do Decreto nº 2.047, de 29 de outubro de
1996, e é presidido pelo Ministro de Estado do Desenvolvimento, da
Indústria e Comércio, tendo ainda como representantes do MDIC, o
Secretário de Produtos de Base e o Diretor do Departamento Nacional
do Café. Compõem ainda o referido Conselho, representantes dos
Ministérios da Fazenda, das Relações Exteriores, da Agricultura e do
Abastecimento, do Planejamento e Orçamento e das seguintes
entidades: Conselho Nacional do Café, Confederação Nacional da
Agricultura, Associação Brasileira da Industria do Café, Associação
Brasileira da Industria do Café Solúvel e da Federação Brasileira
dos Exportadores de Café.
Em 14/08/1996 foi firmado um protocolo de intenções entre o
Ministério da Agricultura e do Abastecimento e o Ministério da
Indústria, do Comércio e do Turismo com o objetivo de estabelecer o
Programa Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (PNP&D/Café),
sob coordenação da Embrapa, em parceria com as instituições
componentes do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA),
institutos e universidades brasileiras e a iniciativa privada do
agronegócio café.
Ficou estabelecido que o PNP&D/Café deve contemplar, em toda a
cadeia produtiva do café, o desenvolvimento da pesquisa
científico-tecnológica e estudos sócio - econômicos, a difusão de
tecnologia e de informações e o acompanhamento da economia cafeeira
brasileira e mundial, atribuindo à Embrapa em sua área de
competência, a responsabilidade pela implementação e execução do
Programa.
O PNP&D/Café tem por objetivo o desenvolvimento dos trabalhos de
pesquisa agropecuária, em consonância com as seguintes atividades:
• A pesquisa científica, tecnológica e os estudos socioeconômicos e
mercadológicos;
• A documentação cafeeira;
• A difusão de tecnologia e de informações cafeeiras;
• O fornecimento de produtos e serviços tecnológicos;
• O treinamento e a capacitação de recursos humanos, dos usuários e
clientes;
• A promoção de intercâmbio técnico e científico entre as
instituições consorciadas, clientes, usuários, estados brasileiros,
países produtores de café e entidades afins, estrangeiras e
internacionais;
• O acompanhamento e a análise da lavoura cafeeira e do negócio
café;
• O fornecimento de subsídios à política cafeeira brasileira.
A criação do Consórcio deu-se em 1997 por iniciativa de dez
tradicionais instituições de pesquisa cafeeira: Empresa Baiana de
Desenvolvimento Agrícola (EBDA) Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência
Técnica e Extensão Rural (Incaper), Empresa de Pesquisa Agropecuária
de Minas Gerais (Epamig), Instituto Agronômico de Campinas (IAC),
Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Empresa de Pesquisa
Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio), Secretaria
de Apoio Rural e Cooperativismo do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA/SARC), Universidade Federal de Lavras
(UFLA) e Universidade Federal de Viçosa (UFV).
O Consórcio é considerado o braço científico e tecnológico do CDPC,
com o qual discute e orienta a realização do PNP&D/Café.
Em prosseguimento às atividades de coordenação técnica e
administrativa que vinha exercendo desde a criação do Consórcio, a
Embrapa criou, em 30 de agosto de 1999, o Serviço de Apoio ao
Programa Café (SAPC), também denominado Embrapa Café. Nessa nova
unidade se situam as atividades de coordenação do Programa Café e do
Consórcio. O resultado de todo esse esforço é o grande avanço
científico e tecnológico que vem sendo gerado com reflexos que já se
fazem sentir na produção e na produtividade das lavouras, no uso
racional de fatores de produção e na diminuição dos custos, no
incremento da qualidade e sustentabilidade econômica, social,
política, tecnológica e ambiental do agronegócio café do Brasil.
Brasil: Café – produção,
área colhida e rendimento médio – 1990 a 2005 Mil
toneladas e mil hectares.
Theodor Wille
Há mais de um século Theodor
Wille embarcava diretamente para a Europa a primeira saca de café
paulista!
O mesmo comerciante Theodor Wille residiu no Brasil por muitos anos, sempre cercado da estima e da consideração gerais, graças às suas belas qualidades de espírito e de coração. Amigo que era, e dos mais sinceros, do Brasil e dos brasileiros, Theodor Wille jamais deixou de socorrer os deserdados e desprotegidos, sendo essa sua norma de ação, reveladora de um coração nobilíssimo, seguida pelos seus sucessores, constituindo uma das mais belas e gloriosas tradições dos chefes da firma Theodor Wille nos dias atuais.
Em 1844, Theodor Wille fundou em Santos a sua importante e acreditada casa comercial, que leva a glória imorredoura de exportar para a Europa a primeira saca de café da então Província de São Paulo, que veio hoje a ser o empório desta cultura.
Por carta patente do Governo Imperial de 5 de dezembro de 1844, foi Theodor Wille confirmado no cargo de vice-cônsul da Prússia no porto de Santos, havendo o marechal Manoel da Fonseca Lima e Silva, então presidente da Província, cumprido a referida carta-patente, expedindo, em data de 12 de junho de 1845, as competentes participações às respectivas autoridades para que o reconhecessem como tal e o deixassem servir no mesmo cargo na forma ordenada pelo referido Governo Imperial.
(Fonte A História do Café)
Palácio do Café.
Visite o site do Museu do Café:
http://www.museudocafe.com.br/palacio/palacio.asp#
Imagem de divulgação do Café, ano de 1904
Notícia do dia 23 de maio de 1934
Grande Reunião de Fazendeiros no Clube Ouro Verde.
Evidentemente, nem tudo era fácil para os produtores de café de Chavantes e Região.
Geadas constantes, broca do café e os problemas enfrentados junto aos governos Federal e Estadual, prejudicaram muito os fazendeiros.
Costumamos falar das riquezas conseguidas graças ao café, o que realmente aconteceu mas, quando sonhamos com os grandes cafezais da região, é preciso conhecermos também os problemas enfrentados.
No ano de 1948, em novembro, uma tensa reunião ocorreu no Município e, pelas informações colhidas, podemos avaliar um pouco os problemas.
Reuniram-se os fazendeiros deste
e de outros municípios para protestar energicamente contra a Comissão
Liquidante do Departamento Nacional do Café que está desobedecendo a portaria
que mandou suspender as vendas de cafés existentes em seu estoque.
Estiveram presentes 150
lavradores entre os quais destacamos os srs. Silvestre Ferraz Egreja, deputado
estadual, Plinio de Castro Prado, da Sociedade Rural Brasileira, Carlos
Wathely, Presidente da Mesa Orientadora dos Trabalhos, Dr. Leonel Pereira da
Cunha representando os fazendeiros de Chavantes, além de vários fazendeiros
representando os municípios de Ipaussu, Piraju, Santa Cruz do Rio Pardo,
Timburi, Ourinhos e outros.
A reunião foi realizada debaixo
de grande tensão nervosa.
A advertência formulada em
recente reunião da Associação Comercial de Santos, relativa à queima dos
estoques do DNC (Departamento Nacional do
Café), caso não sejam suspensas de vez as vendas da autarquia era ali, voz
generalizada.
Foi dada a palavra ao sr. Plinio
Castro Prado, que fez minuciosa exposição em torno da situação cafeeira,
ressaltando fatos e acusações já revelados em toda sua extensão nas discussões
havidas sobre o assunto na capital.
Falou a seguir o deputado Ferraz
Egreja que propôs, sendo aprovada, a remessa de longo telegrama ao presidente
da República, relatando os malefícios da política do DNC e do banco do Brasil,
solicitando enérgicas e imediatas medidas, sob pena de maiores e mais graves
consequências futuras.
Entre outros oradores, falou
ainda o Sr Ciro Camarinha, que, em dramática alocução, manifestou todo o
desespero dos lavradores da região, com safras reduzidíssimas e a criminosa
concorrência do DNC, na véspera de uma nova debacle, mais séria do que a de
1929. Propôs que todos os presentes concedessem procuração ao Deputado Ferraz
Egreja para que impetrasse em São Paulo mandado de segurança contra a Comissão
Liquidante do órgão cafeeiro. Declarou que a ultima tentativa para resolver a
questão, por meios legais, de forma pacífica, esgotado esse derradeiro recurso,
suasório, no caso de não caber mandado de segurança, passariam, tão logo
conhecida essa decisão judicial, a vias de fato, isto é, botariam fogo aos
reguladores do DNC, a começar pelo desta cidade.
A proposta foi recebida e
aprovada, sob prolongada ovação, sendo prontamente chamado ao recinto o
tabelião local, sr. Mario Itauby Vieira, que redigiu a procuração, assinada pelos
lavradores da região da Sorocabana.
Tipos de Café - Arábica e Robusta:
Planta exótica que pertence à familia das Rubiáceas, do gênero Coffea, que engloba diversas espécies (cerca de 60), das quais apenas duas são cultivadas e comercializadas: a Coffea Arabica e Coffea Canephora, conhecido como Robusta (no Brasil, Conilon).
Café Robusta - site Mexido de Idéias
EM CONSTRUÇÃO
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