O CAFÉ:


O CAFÉ

“Acorda, toma um café, penteia esse cabelo e saiba que você não precisa de mais ninguém para ser feliz. O mundo é seu.” Caio Augusto Leite
A Terra Roxa -                                                                                                                                                                          “A Província de São Paulo”- 02/12/1876
[...] É natural que uma tão vistosa superioridade desperte em todos
os brasileiros a mais viva curiosidade e provoque o justo desejo de saber quais
os elementos, que dão a São Paulo essa brilhante e invejável perspectiva. [...]
A filosofia da terra roxa! Não se assustem os srs. fazendeiros, [...].
Quero simplesmente colocá-los em estado de responder às incessantes objeções
e aos pedidos de informação que nos chegam de fora da província.
A minha tese é a seguinte: a província de São Paulo é o que é na
atualidade, graças simplesmente à sua terra roxa. [...]. (Barreto, 1876)

Rangel,
Estou seriamente endividado para contigo, em cartas, livros, cumprimento de promessas, pedaços de queijo... Mas explica-se a má finança. O mês de dezembro passei-o todo fora daqui, em S. Paulo e no Oeste. Corri as linhas da Paulista, Mogiana e Sorocabana, com paradas nas inconcebíveis cidades que da noite para o dia o Café criou - S. Carlos, um lugarejo de ontem, hoje com 40 mil almas; Ribeirão Preto, com 60 mil; Araraquara, Piracicaba a formosa e outras. Vim de lá maravilhado e todo semeado de coragem nova, pois em toda a região da Terra Roxa -um puro óxido de ferro - recebi nas ventas um bafo de seiva, com pronunciado sabor de riqueza latente. Em Ribeirão, a colheita do município foi o ano passado de 4 e meio milhões de arrobas -coisa fabulosa e nunca vista. Um fazendeiro, o Schmidt, colheu, só ele, 900.000 arrobas. Costumes, hábitos, idéias, tudo lá é diferente destas nossas cidades do velho S. Paulo e da tua Minas. Em Ribeirão dizem que há 800 “mulheres da vida”, todas“estrangeiras e caras”. Ninguém “ama” ali à nacional. O Moulin Rouge funciona há 12 anos e importa champanha e francesas diretamente. A terra-chão, porém, é uma calamidade -”enferruja”, isto é, avermelha todas as pessoas e coisas, desde a fachada das casas até o nariz dos prefeitos. Vai um pacotinho de amostra. Não pense que é tinta, não. Lá ninguém mora; apenas estaciona para ganhar dinheiro. Esse meu passeio de 3.453 quilômetros de via férrea buliu muito com as minhas idéias.
[...] Eu mesmo gostaria de firmar-me por lá [...] Estou tentando ser nomeado para Ribeirão Preto...
(carta de Monteiro Lobato para seu amigo Rangel - 1950 pp.)


A lenda do café: Não há evidência real sobre a descoberta do café, mas há muitas lendas que relatam sua possível origem. Uma das mais aceitas e divulgadas é a do pastor Kaldi, que viveu na Absínia, hoje Etiópia, há cerca de mil anos. Ela conta que Kaldi, observando suas cabras, notou que elas ficavam alegres e saltitantes e que esta energia extra se evidenciava sempre que mastigavam os frutos de coloração amarelo-avermelhada dos arbustos existentes em alguns campos de pastoreio. O pastor notou que as frutas eram fonte de alegria e motivação, e somente com a ajuda delas o rebanho conseguia caminhar por vários quilômetros por subidas infindáveis.
Kaldi comentou sobre o comportamento dos animais a um monge da região, que decidiu experimentar o poder dos frutos. O monge apanhou um pouco das frutas e levou consigo até o monastério. Ele começou a utilizar os frutos na forma de infusão, percebendo que a bebida o ajudava a resistir ao sono enquanto orava ou em suas longas horas de leitura do breviário. Esta descoberta se espalhou rapidamente entre os monastérios, criando uma demanda pela bebida. As evidências mostram que o café foi cultivado pela primeira vez em monastérios islâmicos no Yemen.
As grandes fazendas de café: As plantações de café foram fundadas em grandes propriedades monoculturais trabalhadas por escravos, substituídos mais tarde por trabalhadores assalariados: as grandes fazendas de café. Estas fazendas ficaram famosas por sua arquitetura típica e seus equipamentos. Tanques em que o grão é lavado logo depois da colheita, terreiros para secagem, máquinas de seleção e beneficiamento fazem parte desse ambiente. A senzala dos escravos ou colônias de trabalhadores livres finalizam a caracterização das fazendas cafeeiras. A fazenda de café, desde a semente até a xícara, era um pequeno mundo, quase isolado. O desenvolvimento da produção cafeeira esteve intimamente relacionado com a quantidade de mão-de-obra disponível. Para incentivar a produção de café, a administração do Estado de São Paulo fez da questão imigratória o projeto central de suas atividades, estabelecendo um sistema que oferecia auxílio formal à imigração européia, principalmente à italiana. Por meio de um programa que cuidava da propaganda em seu país de origem, os imigrantes eram trazidos desde seu domicílio na Europa até a fazenda de café. A imigração ajudou na conquista de áreas ainda não exploradas, permitindo rápido desenvolvimento do Estado de São Paulo.
Com a mão-de-obra imigrante a cultura ganhou impulso e durante três quartos de século, quase toda riqueza do país se concentrou na agricultura cafeeira. O Brasil dominava 70% da produção mundial e ditava as regras do mercado. Nessa época os fazendeiros de café se tornaram a elite social e política, formando umas das últimas aristocracias brasileiras. A opulência dos plantadores de café permitiu a construção dos grandes e bonitos casarões das fazendas e de mansões na cidade de São Paulo e financiou a industrialização no sudeste do país. 



Série de imagens do Portal  São Francisco

Os terreiros de café das fazendas da região.

A Crise de 29: A quebra na bolsa de Nova York em outubro de 29 foi um golpe para a estabilidade da economia cafeeira. O café não resistiu ao abalo sofrido no mundo financeiro e o seu preço caiu bruscamente. As lavouras de café enfrentaram a verdadeira dimensão do mercado. Nesse processo, milhões de sacas de café estocadas foram queimadas e milhões de pés de café foram erradicados, na tentativa de estancar a queda contínua de preços provocada pelos excedentes de produção.
Quando a economia mundial conseguiu se recuperar do golpe de 1929, o Sudeste do país voltou a crescer desta vez com perspectivas lastreadas na cafeicultura e na indústria, que assumia parcelas maiores da economia. O café retomou sua importante posição nas exportações brasileiras e, mesmo perdendo mercado para outros países produtores, o país ainda se mantém como maior produtor de café do mundo.
Das suas épocas áureas, ainda nos restam as belas sedes das fazendas coloniais, um extenso material técnico-científico, plantações centenárias e o hábito nacional do cafezinho.

Fato noticiado no jornal O Município em 1934. Arquivo do Museu M.

O café brasileiro na atualidade: Atualmente o Brasil é o maior produtor mundial de café, sendo responsável por 30% do mercado internacional de café, volume equivalente à soma da produção dos outros seis maiores países produtores. É também o segundo mercado consumidor, atrás somente dos Estados Unidos.
As áreas cafeeiras estão concentradas no centro-sul do país, onde se destacam quatro estados produtores: Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Paraná. A região Nordeste também tem plantações na Bahia, e da região Norte pode-se destacar Rondônia.
A produção de café arábica se concentra em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Bahia e parte do Espírito Santo, enquanto o café robusta é plantado principalmente no Espírito Santo e Rondônia.

O Café no Brasil 

 

Prof.º Leonardo Castro
O desempenho da economia durante o Primeiro Reinado e a Regência foi marcado por dificuldades, com os preços do açúcar, algodão, fumo, arroz e couro em baixa. Para superar tais dificuldades, o governo buscou pelo incentivo a produção de um produto novo. Esse produto foi o café – a Coffea arábica –, já difundido na América e na Ásia. O café entrou no Brasil no início do século XVIII pela região Norte, trazido das Guianas ao Estado do Pará, e aos poucos se espalhou pelo país. Mas foi nas primeiras décadas do século XIX que seu cultivo impulsionou, no Rio de Janeiro, nas áreas do Vale do Paraíba. A expansão cafeeira logo atingiu São Paulo e Minas Gerais.
Essa expansão apoiou-se em condições favoráveis existentes: demanda crescente pelo produto no mercado internacional (Estados Unidos e Europa) e disponibilidades de recursos no Brasil – terras, escravos, equipamentos e meios de transporte.
O Trabalho nos cafezais após a Abolição: A produção do café se estabeleceu na estrutura da economia agrícola de tipo plantation, ou seja, a grande propriedade escravista, monocultora e exportadora. Assim, inicialmente foi utilizada a mão-de-obra escrava do africano nos cafezais.
Quando foi proibido o tráfico negreiro pela Lei Eusébio de Queiroz (1850), e a mão-de-obra escrava começou a escassear, substituiu-se o trabalho servil pelo trabalho assalariado de imigrantes estrangeiros. 
Imigrantes na colheita de café em fazenda do interior de São Paulo, início do século XX. Cartão Postal, de 4 de maio de 1915. Imagens do site O Café no Brasil do Prof. Leonardo Castro


Na região cafeeira, os imigrantes foram aproveitados para trabalhar na lavoura do café, trabalhando como mão-de-obra assalariada ou sob alguma forma de parceria – quando a produção é repartida entre o colono e o fazendeiro.
A imigração européia para o Brasil teve seu ápice o período de 1880 e 1930. Os imigrantes supriram a lavoura do trabalho necessário. Nos cafezais, todos trabalhavam: homens, mulheres e até crianças.
No início do século XX, vieram também asiáticos, chineses e japoneses. Em relação aos japoneses, o Kasato Maru é considerado pela historiografia oficial o primeiro navio a aportar no Brasil com imigrantes japoneses, em 18 de Junho de 1908. Chegou ao Porto de Santos trazendo 165 famílias, que vinham trabalhar nos cafezais do oeste paulista.
Opulência e devastação ambiental: O sucesso do café foi decisivo para melhorar as condições econômicas do país e solidificar o núcleo do poder do Império, formado pelas oligarquias agrárias do Sudeste. O café gerou recursos e atraiu novos capitais para outros investimentos em atividades não-agrícolas de mercado interno, tanto de infra-estrutura como de consumo. Em São Paulo, o café promoveu o período da Belle Epoque.
Os sinais de prosperidade da riqueza do café ficaram evidentes nas melhorias de infra-estrutura no Rio de Janeiro e São Paulo, sobretudo pela introdução sistemática das ferrovias, um meio de transporte mais rápido e barato para os negócios dos cafeicultores. A cafeicultura também gerou uma grande diversidade nos negócios e atividades econômicas: surgiram fabricas de tecidos, ferramentas e bebidas; fundições, bancos, companhias de navegação, empresas de serviços de água, gás, iluminação e transporte urbano.
Trens e ferrovias eram símbolos da modernidade gerada 
pela riqueza do café. 1907.site O Café no Brasil 

Esses negócios resultavam da aplicação pelos cafeicultores de parte dos lucros obtidos com suas atividades. Mas foi também resultado da presença cada vez maior do capital estrangeiro, sobretudo de investidores ingleses.
Os cafezais foram responsáveis pela opulência e riqueza da aristocracia brasileira, sobretudo a de São Paulo, mas também o avanço das fazendas de café sobre o território brasileiro promoveu a intensificação da devastação da Mata Atlântica na região sudeste e sul, sendo a principal responsável pela destruição total da vegetação nativa, deixando uma área muito pequena para a preservação de espécies. Em São Paulo, por exemplo, com o desmatamento de até 150 mil hectares por ano, a cobertura vegetal nativa do estado caiu à metade no início do século XX.
Devastação da Mata Atlântica em São Paulo. Em 1500, o Estado de São Paulo era constituído pela Mata Atlântica, mais de 80 % de seu território era de floresta. No início do século XXI, a Mata Atlântica encontra-se reduzida a 7% de seu território. 

As fazendas:
Imagens Portal de São Francisco
 Terreirão onde o café era secado 1920/1930. Fotógrafo: Theodor Preising



 As ferrovias passavam pelas fazendas, cortando os cafezais.
colheita do café pelos colonos italianos (1911).


As colheitas ocorriam após a estação chuvosa, nos meses de maio até setembro, com o ponto alto em julho, através do método chamado de “derriça” que, praticamente, limpava cada galho da planta, removendo frutos maduros, ou “cerejas”, verdes, secos, galhos e gravetos. Era realizada de forma exaustiva, pois se repetia o processo em todo o cafezal, recolhendo-se, também, os grãos secos caídos aos pés das plantas. (Pesquisa realizada no Portal  São Francisco)


No terreiro, o café era periodicamente revirado para se obter uma secagem uniforme e amontoado e coberto ao cair da tarde — com palha e posteriormente com lonas — para protegê-lo do sereno da noite ou quando ameaçava chuva. No dia seguinte, com o sol já bem alto e o terreiro já aquecido, repetia-se a operação.

(Difícil não nos lembrarmos dos terreiros de café da nossa infância. Podíamos ver os colonos trabalhando num vai e vem constante e, aos poucos, o café secando e mudando de cor).



O “café em coco”, seja por que processo tenha sido tratado, estava pronto para ser “beneficiado”, o que acontecia no “engenho de café”.

O café descascado era limpo, escolhido, ensacado (em sacos de 60 kg) e embarcado, através de tropa de mulas e depois por ferrovia, para os portos intermediários, alguns fluviais, que existiam ao longo da costa paulista e fluminense, e daí aos portos exportadores, fundamentalmente Santos.

Ensacamento para exportação, no auge do ciclo do café. (imagem wikipedia)  


 Concurso para carregamento de Sacas

Queima do Café 

 Colheita

 Sacas de café no Porto de Santos

  Embarque no Porto de Santos

O Cel. Ataliba Leonel (que deu nome à estação) era grande proprietário de terras de café na região. Foto de 03 de outubro de 1906.  


No dia 03 e 04 de novembro de 1934, o jornal O Município publicou notas sobre o falecimento do Sr Ataliba Leonel.


                                                                                                                                     


Propaganda do Café Brasileiro:



A crise do café e a valorização
O rápido crescimento da produção de café no Estado de S. Paulo, originou uma crise no comercio desse produto, afetando aos plantadores. Inundados os mercados com o produto paulista, os estoques cresceram e os preços baixaram, causando grandes prejuizos. De 1886 a 1896, os preços do café haviam atingido de 70 a 132 francos por 50 quilos, no Havre (Ainda hoje, Le Havre é o maior porto importador de café do mundo ).
Mas a colheita de 1897-98, mais abundante, elevou subitamente o estoque mundial a cinco e meio ou seis milhões de sacas. Em conseqüência, veio uma forte baixa nos preços, baixa que se tornou mais sensível depois da colheita de 1901-2, quando o estoque mundial subiu a 11.305.000 sacas. Em 1908, já os preços tinham baixado9 a 30 francos por 50 quilos.
Então a situação dos agricultores paulistas chegou a ser extremamente difícil: o seu trabalho não era suficientemente remunerado e estavam na iminência de abandonar parte das plantações. Nessas condições foi que, em setembro de 1905, uma floração extraordinária dos cafeeiros, favorecida por excepcionais circunstancias climáticas, anunciou uma colheita enorme.
Uma produção formidável, calculada em 17 milhões de sacas, ia afluir para Santos. O pânico dominou então os plantadores, que se viram ameaçados pela ruína completa, estando impossibilitados de resistir á nova baixa, por falta de capital.
Diante desse perigo que afetava inclusive as receitas publicas, foi o governo do Estado obrigado a intervir, em socorro dos agricultores. Ele negociou com os Estados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro um acordo destinado a combater a crise do café.
Esse acordo, firmado em 26 de fevereiro de 1906, uma segunda feira, na cidade de Taubaté, ficou popularmente conhecido pela expressão Convenio de Taubaté. 
O convênio de Taubaté (1906) valorizou sem limitar. Este, o erro da política de retenção dos estoques e preço alto, boa parte o pais produtor, enquanto "controlasse" o mercado, absurda quando (estimulada pelas cotações crescentes) se apresentasse a concorrência, derrubando no excesso da oferta todos os cálculos. Assim aconteceu em 1929. Guardar para as safras magras, segundo o critério bíblico, era simples. Outros fatores, porém, incidem nas lavouras tropicais; o farto se seguiria um de escassez. Se invariável o ritmo, o sistema de Taubaté não sofreria objeções. Na hipótese da superprodução, com o "enjôo" das praças compradoras, cairia por terra, com os seus complementos de financiamento e crédito. No principio, tudo correu às maravilhas. 1890 foi o boom paulista. A saca de de café valia 100 mil-réis! Seguira-se a depressão... Exportávamos 10 milhões de sacas em 1899 (quase o dobro de 89), 11 em 1905, em 1920 14, em 1928 um pouco menos, o que vale dizer que as remessas mantiveram uniformidade, sem embargo do aumento do consumo. Em quatro anos foi resgatado o empréstimo de 15 milhões esterlinos garantidos pela União (base do convênio) e podia São Paulo levantar mais 7 e meio milhões (liquidáveis até 1923) para continuar a manobra.
Em 1917 o governo federal entrou, com lucro, no mercado, para armazenar 3 milhões de sacas; e em 1920 (tomando 25 mil contos no país e 4 milhões de libras em Londres) repetia a intervenção defensiva, confiada, em 1922, a um instituto permanente. Reverteu dois anos depois à administração paulista.
Proteger o café era socorrer a nação, a quem dava dois terços do ouro de sua balança comercial. Estremecera, a nação e o seu principal negócio, com o crack da bolsa de New York. Acumularam-se duas grandes colheitas. Isto (23.324.000 sacas!) quando havia estoques sem colocação e se propunha, para remediar a pletora, a eliminação dos saldos... Desandou o preço; e o governo.
Triunfante a revolução em que a crise tivera a sua parte (o "general café"), o Ministro José Maria Whitaker, representando o pensamento conservador de São Paulo, empreendeu a defesa pelo equilíbrio estatístico. Adquiriu a União 17.500.000 sacas. A taxa de 10, depois de 15 shillings, financiou a redução e - em monstruosas fogueiras - a queima do excedente. Só não era selvagem, essa operação simplista, porque era universal, num estranho tempo em que se destruíam, com o mesmo propósito de equilíbrio, videiras na França, rebanhos na Austrália, máquinas na Inglaterra ... Proibiu-se o plantio.




Queima de café no Estado de São Paulo

Queima de café no Estado de São Paulo

Café sendo embarcado para ser jogado no mar

Café sendo  jogado no mar

Blocos de café, para serem utilizados como combustível.

Estoques de café supérfluos para outros fins

O que tinha de artificial a política limitativa estourou, em forma de corrida às terras roxas, mal o restabelecimento econômico dos Estados Unidos - a que se seguiu a alta, peculiar à expectativa de guerra - repercutiu no mercado brasileiro. Seria utópico impedir a multiplicação das fazendas ao espraiar a "onda verde" pelos solos propícios, como, em 1870, à roda de Ribeirão Preto. Nem se restringiu ao Norte do Paraná. Atirou-se a Goiás e Mato Grosso. Com o séqüito de civilização itinerante, o fenômeno de cidades improvisadas, em que correm as avenidas pelos roçados da véspera, numa rápida montagem de instalações precárias, a lembrar a Califórnia dos " pioneers" - com o trabalho barato dos trabalhadores deslocados das zonas pobres do Nordeste pelas modernas rodovias... Pelo roteiro do café - como no século passado - continuaram a brotar núcleos prósperos, que amiúdam as malhas da rede de circulação, para lá dos caminhos tradicionais do Sul e do Oeste: numa conquista metódica de vales e planaltos, em direção à despovoada e imensa fronteira. Permanecia com a qualidade original, de bandeirante. Nova crise feriu o café em 1957 e comprometeu-lhe a posição mundial em 1958. Até então, tivera o Brasil a liderança da exportação (em 1957, 42 % da importação norte-americana e 32% da européia). Dela tirou (naquele ano) 61% do volume global de divisas provenientes das vendas externas.
É como se disséssemos (confirmando) que sobre essa coluna repousa o suprimento nacional de moeda estrangeira, ou seja, o câmbio. Enquanto os máximos produtores fossem os paises latino-americanos (a Colômbia, já com 20% da importação norte-americana), não se modificariam os dados do problema. A partir porém de 1950, os territórios africanos começaram a produzir café em ampla escala. Em 1946 os Estados Unidos lá adquiriam 420 mil sacas; em 1957, 3.200.000, ou seja, de 2% a 15% do seu consumo.
Por sua vez o Mercado Comum Europeu comprou na África 34% da sua importação (em 1957). Esses 9 milhões e 100 mil sacas derramadas nas linhas de distribuição contribuíram - como um fator explosivo - para o caráter depressivo da economia  cafeeira na América Latina. Não constituem, porém, a razão fundamental da angústia que a assoberbou. Origina-se da complexidade das relações internacionais nesta época de choque das mentalidades agrária e industrial, do nacionalismo econômico, baseado na auto-suficiência, da interrupção dos processos clássicos de intercambio no dirigismo, na valorização, na planificação daquela economia perturbada.

Marcos Institucionais 

Devido à importância do café nas exportações brasileiras, foi criado, em 1931, o Conselho Nacional do Café (CNC), que, em 1933, foi substituído pelo Departamento Nacional de Café (DNC), autarquia federal subordinada ao Ministério da Fazenda, que controlou o setor até 1946. Em 1952, foi criado o Instituto Brasileiro do Café (IBC), formado principalmente por cafeicultores, que definiu as diretrizes da política cafeeira até 1989. 

Após a extinção do IBC, foi criado, em 1996, pelo Governo Federal, o Conselho Deliberativo de Política do Café (CDPC), vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e que tem a finalidade de formular as políticas públicas concernentes à produção, comercialização, exportação e marketing, bem como de estabelecer um programa de pesquisa agronômica e mercadológica para dar suporte técnico e comercial ao desenvolvimento da cadeia agroindustrial do café.

O CDPC foi criado a partir do Decreto nº 2.047, de 29 de outubro de 1996, e é presidido pelo Ministro de Estado do Desenvolvimento, da Indústria e Comércio, tendo ainda como representantes do MDIC, o Secretário de Produtos de Base e o Diretor do Departamento Nacional do Café. Compõem ainda o referido Conselho, representantes dos Ministérios da Fazenda, das Relações Exteriores, da Agricultura e do Abastecimento, do Planejamento e Orçamento e das seguintes entidades: Conselho Nacional do Café, Confederação Nacional da Agricultura, Associação Brasileira da Industria do Café, Associação Brasileira da Industria do Café Solúvel e da Federação Brasileira dos Exportadores de Café. 

Em 14/08/1996 foi firmado um protocolo de intenções entre o Ministério da Agricultura e do Abastecimento e o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo com o objetivo de estabelecer o Programa Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (PNP&D/Café), sob coordenação da Embrapa, em parceria com as instituições componentes do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA), institutos e universidades brasileiras e a iniciativa privada do agronegócio café. 
Ficou estabelecido que o PNP&D/Café deve contemplar, em toda a cadeia produtiva do café, o desenvolvimento da pesquisa científico-tecnológica e estudos sócio - econômicos, a difusão de tecnologia e de informações e o acompanhamento da economia cafeeira brasileira e mundial, atribuindo à Embrapa em sua área de competência, a responsabilidade pela implementação e execução do Programa. 
O PNP&D/Café tem por objetivo o desenvolvimento dos trabalhos de pesquisa agropecuária, em consonância com as seguintes atividades: 
• A pesquisa científica, tecnológica e os estudos socioeconômicos e mercadológicos;
• A documentação cafeeira;
• A difusão de tecnologia e de informações cafeeiras;
• O fornecimento de produtos e serviços tecnológicos;
• O treinamento e a capacitação de recursos humanos, dos usuários e clientes;
• A promoção de intercâmbio técnico e científico entre as instituições consorciadas, clientes, usuários, estados brasileiros, países produtores de café e entidades afins, estrangeiras e internacionais;
• O acompanhamento e a análise da lavoura cafeeira e do negócio café; 
• O fornecimento de subsídios à política cafeeira brasileira. 
A criação do Consórcio deu-se em 1997 por iniciativa de dez tradicionais instituições de pesquisa cafeeira: Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio), Secretaria de Apoio Rural e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA/SARC), Universidade Federal de Lavras (UFLA) e Universidade Federal de Viçosa (UFV). 
O Consórcio é considerado o braço científico e tecnológico do CDPC, com o qual discute e orienta a realização do PNP&D/Café.
Em prosseguimento às atividades de coordenação técnica e administrativa que vinha exercendo desde a criação do Consórcio, a Embrapa criou, em 30 de agosto de 1999, o Serviço de Apoio ao Programa Café (SAPC), também denominado Embrapa Café. Nessa nova unidade se situam as atividades de coordenação do Programa Café e do Consórcio. O resultado de todo esse esforço é o grande avanço científico e tecnológico que vem sendo gerado com reflexos que já se fazem sentir na produção e na produtividade das lavouras, no uso racional de fatores de produção e na diminuição dos custos, no incremento da qualidade e sustentabilidade econômica, social, política, tecnológica e ambiental do agronegócio café do Brasil.
Brasil: Café – produção, área colhida e rendimento médio – 1990 a 2005 Mil toneladas e mil hectares.


Theodor Wille
Há mais de um século Theodor Wille embarcava diretamente para a Europa a primeira saca de café paulista!
Em janeiro de 1892, faleceu em 1892 em Hamburgo (Alemanha) o adiantado comerciante Theodor Wille, chefe da importante firma Wille, Schmillinski e Cia., da praça do Rio de Janeiro, e da Theodor Wille e Cia., de Santos e da Capital, sendo que a mesma firma era estabelecida com loja de fazendas e armarinhos por atacado, no prédio situado no largo do Ouvidor, esquina da Rua José Bonifácio nº 2.
O mesmo comerciante Theodor Wille residiu no Brasil por muitos anos, sempre cercado da estima e da consideração gerais, graças às suas belas qualidades de espírito e de coração. Amigo que era, e dos mais sinceros, do Brasil e dos brasileiros, Theodor Wille jamais deixou de socorrer os deserdados e desprotegidos, sendo essa sua norma de ação, reveladora de um coração nobilíssimo, seguida pelos seus sucessores, constituindo uma das mais belas e gloriosas tradições dos chefes da firma Theodor Wille nos dias atuais.
Em 1844, Theodor Wille fundou em Santos a sua importante e acreditada casa comercial, que leva a glória imorredoura de exportar para a Europa a primeira saca de café da então Província de São Paulo, que veio hoje a ser o empório desta cultura.
Por carta patente do Governo Imperial de 5 de dezembro de 1844, foi Theodor Wille confirmado no cargo de vice-cônsul da Prússia no porto de Santos, havendo o marechal Manoel da Fonseca Lima e Silva, então presidente da Província, cumprido a referida carta-patente, expedindo, em data de 12 de junho de 1845, as competentes participações às respectivas autoridades para que o reconhecessem como tal e o deixassem servir no mesmo cargo na forma ordenada pelo referido Governo Imperial.
(Fonte A História do Café)

Palácio do Café.
Visite o site do Museu do Café:
 http://www.museudocafe.com.br/palacio/palacio.asp#

Imagem de divulgação do Café, ano de 1904


Notícia do dia 23 de maio de 1934

Grande Reunião de Fazendeiros no Clube Ouro Verde.
Evidentemente, nem tudo era fácil para os produtores de café de Chavantes e Região.
Geadas constantes, broca do café e os problemas enfrentados junto aos governos Federal e Estadual, prejudicaram muito os fazendeiros.
Costumamos falar das riquezas conseguidas graças ao café, o que realmente aconteceu mas, quando sonhamos com os grandes cafezais da região, é preciso conhecermos também os problemas enfrentados.
No ano de 1948, em novembro, uma tensa reunião ocorreu no Município e, pelas informações colhidas, podemos avaliar um pouco os problemas.

Reuniram-se os fazendeiros deste e de outros municípios para protestar energicamente contra a Comissão Liquidante do Departamento Nacional do Café que está desobedecendo a portaria que mandou suspender as vendas de cafés existentes em seu estoque.
Estiveram presentes 150 lavradores entre os quais destacamos os srs. Silvestre Ferraz Egreja, deputado estadual, Plinio de Castro Prado, da Sociedade Rural Brasileira, Carlos Wathely, Presidente da Mesa Orientadora dos Trabalhos, Dr. Leonel Pereira da Cunha representando os fazendeiros de Chavantes, além de vários fazendeiros representando os municípios de Ipaussu, Piraju, Santa Cruz do Rio Pardo, Timburi, Ourinhos e outros.
A reunião foi realizada debaixo de grande tensão nervosa.
A advertência formulada em recente reunião da Associação Comercial de Santos, relativa à queima dos estoques do DNC (Departamento Nacional do Café), caso não sejam suspensas de vez as vendas da autarquia era ali, voz generalizada.
Foi dada a palavra ao sr. Plinio Castro Prado, que fez minuciosa exposição em torno da situação cafeeira, ressaltando fatos e acusações já revelados em toda sua extensão nas discussões havidas sobre o assunto na capital.
Falou a seguir o deputado Ferraz Egreja que propôs, sendo aprovada, a remessa de longo telegrama ao presidente da República, relatando os malefícios da política do DNC e do banco do Brasil, solicitando enérgicas e imediatas medidas, sob pena de maiores e mais graves consequências futuras.
Entre outros oradores, falou ainda o Sr Ciro Camarinha, que, em dramática alocução, manifestou todo o desespero dos lavradores da região, com safras reduzidíssimas e a criminosa concorrência do DNC, na véspera de uma nova debacle, mais séria do que a de 1929. Propôs que todos os presentes concedessem procuração ao Deputado Ferraz Egreja para que impetrasse em São Paulo mandado de segurança contra a Comissão Liquidante do órgão cafeeiro. Declarou que a ultima tentativa para resolver a questão, por meios legais, de forma pacífica, esgotado esse derradeiro recurso, suasório, no caso de não caber mandado de segurança, passariam, tão logo conhecida essa decisão judicial, a vias de fato, isto é, botariam fogo aos reguladores do DNC, a começar pelo desta cidade.
A proposta foi recebida e aprovada, sob prolongada ovação, sendo prontamente chamado ao recinto o tabelião local, sr. Mario Itauby Vieira, que redigiu a procuração, assinada pelos lavradores da região da Sorocabana.



Tipos de Café - Arábica e Robusta:

Planta exótica que pertence à familia das Rubiáceas, do gênero Coffea, que engloba diversas espécies (cerca de 60), das quais apenas duas são cultivadas e comercializadas: a Coffea Arabica e Coffea Canephora, conhecido como Robusta (no Brasil, Conilon).


                  Café Robusta - site Mexido de Idéias        

EM CONSTRUÇÃO

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