Notícias da Guerra

 Notícias da Guerra
"É mais fácil mobilizar os homens para a guerra que para a paz. Ao longo da história, a Humanidade sempre foi levada a considerar a guerra como o meio mais eficaz de resolução de conflitos, e sempre os que governaram se serviram dos breves intervalos de paz para a preparação das guerras futuras. Mas foi sempre em nome da paz que todas as guerras foram declaradas."   José Saramago         




Nossa cidade atravessou as duas grandes Guerras.
A Primeira Guerra Mundial:
O Brasil oficialmente declarou neutralidade em 4 de agosto de 1914. Desta forma, somente um navio brasileiro, o Rio Branco, foi afundado por um submarino alemão nos primeiros anos da guerra em 3 de maio de 1916, mas este estava em águas restritas, operando a serviço inglês e com a maior parte de sua tripulação sendo composta por noruegueses, de forma que, apesar da comoção nacional que o fato gerou, não poderia ser considerado como um ataque ilegal dos alemães. No início da guerra, apesar de neutro, o Brasil enfrentava uma situação social e econômica complicada. A sua economia era basicamente fundamentada na exportação de apenas um produto agrícola, o café. Como este não era essencial, suas exportações (e as rendas alfandegárias, a principal fonte de recursos do governo) diminuíram com o conflito. Isto se acentuou mais com o bloqueio alemão e, depois, com a proibição à importação de café feita pela Inglaterra em 1917, que passou a considerar o espaço de carga nos navios necessário para produtos mais vitais, haja vista as grandes perdas causadas pelos afundamentos de navios mercantes pelos alemães. As relações entre Brasil e o Império Alemão foram abaladas pela decisão alemã de autorizar seus submarinos a afundar qualquer navio que entrasse nas zonas de bloqueio. No dia 5 de abril de1917 o vapor brasileiro Paraná, um dos maiores navios da marinha mercante (4.466 toneladas), carregado de café, navegando de acordo com as exigências feitas a países neutros, foi torpedeado por um submarino alemão a milhas do cabo Barfleur, na França, e três brasileiros foram mortos. A participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial foi estabelecida em função de uma série de episódios envolvendo embarcações brasileiras na Europa. No mês de abril de 1917, forças alemãs abateram o navio Paraná nas proximidades do Canal da Mancha. Seis meses mais tarde, outra embarcação brasileira, o encouraçado Macau, foi atacado por alemães. Indignados, populares exigiram uma resposta contundente das autoridades brasileiras. Na época, o presidente Venceslau Brás firmou aliança com os países da Tríplice Entente (Estados Unidos, Inglaterra e França), em oposição ao grupo da Tríplice Aliança, formada pelo Império Austro-húngaro, Alemanha e Império Turco-otomano. Sem contar com uma tecnologia bélica expressiva, podemos considerar a participação brasileira na Primeira Guerra bastante tímida. Entre outras ações, o governo do Brasil enviou alguns pilotos de avião, o oferecimento de navios militares e apoio médico. O apoio brasileiro teve muito mais presença com o envio de suprimentos agrícolas e matéria-prima procurada pelas nações em conflito. No Brasil, a Primeira Guerra teve implicações significativas em nossa economia. A retração econômica sofrida pelas grandes nações industriais europeias abriu portas para que o parque industrial se desenvolvesse.Quando a notícia do afundamento do vapor Paraná chegou ao Brasil poucos dias depois, eclodiram diversas manifestações populares nas capitais. O ministro de relações exteriores, Lauro Müller, de origem alemã e favorável à neutralidade na guerra, foi obrigado a renunciar. Em Porto Alegre, passeatas foram organizadas com milhares de pessoas. Inicialmente pacíficas, as manifestações passaram a atacar estabelecimentos comerciais de propriedades de alemães ou descendentes - o Hotel Schmidt , a Sociedade Germânia, o clube Turnebund e o jornal Deutsche Zeitung foram invadidos, pilhados e queimados. A população brasileira revoltada com o afundamento do navio em 1 de novembro  danificou casas, clubes e fábricas em Petrópolis, entre  eles o restaurante Brahma (completamente destruído), a Gesellschaft Germania, a escola alemã, a empresa Arp, o Diário Alemão, entre outrosAo mesmo tempo, em outras capitais houve pequenos distúrbios. Novos episódios com violência só ocorreriam quando da declaração de guerra do Brasil à Alemanha em outubro. Por outro lado, sindicalistas, pacifistas e anarquistas se colocavam contra a guerra e acusavam o governo de estar desviando a atenção dos problemas internos, entrando em choque por vezes com os grupos nacionalistas favoráveis a entrada do país no conflito. À greve geral de 1917, se seguiu violenta repressão que usou a declaração de guerra em outubro para declarar estado de sítio e perseguir opositores.

Grande parte da contribuição do Brasil na Primeira Guerra se deu com o envio de forças navais.
Grande parte da contribuição do Brasil na
 Primeira Guerra se deu com o envio de forças navais.

Brasil na Primeira Guerra Mundial
Brasil na Primeira Guerra Mundial

A Segunda Guerra Mundial:
Durante o Estado Novo (1937 – 1945), o governo brasileiro viveu a instalação de um regime ditatorial comandado por Getúlio Vargas. Nesse mesmo período, as grandes potências mundiais entraram em confronto na Segunda Guerra, onde observamos a cisão entre os países totalitários (Alemanha, Japão e Itália) e as nações democráticas (Estados Unidos, França e Inglaterra). Ao longo do conflito, cada um desses grupos em confronto buscou apoio político-militar de outras nações aliadas.
Com relação à Segunda Guerra Mundial, a situação do Brasil se mostrava completamente indefinida. Ao mesmo tempo em que Vargas contraía empréstimos com os Estados Unidos, comandava um governo próximo aos ditames experimentados pelo totalitarismo nazi-fascista. Dessa maneira, as autoridades norte-americanas viam com preocupação a possibilidade de o Brasil apoiar os nazistas cedendo pontos estratégicos que poderiam, por exemplo, garantir a vitória do Eixo no continente africano.
A preocupação norte-americana, em pouco tempo, proporcionou a Getúlio Vargas a liberação de um empréstimo de 20 milhões de dólares para a construção da Usina de Volta Redonda. No ano seguinte, os Estados Unidos entraram nos campos de batalha da Segunda Guerra e, com isso, pressionou politicamente para que o Brasil entrasse com suas tropas ao seu lado. Pouco tempo depois, o afundamento de navegações brasileiras por submarinos alemães gerou vários protestos contra as forças nazistas.
Dessa maneira, Getúlio Vargas declarou guerra contra os italianos e alemães em agosto de 1942. Politicamente, o país buscava ampliar seu prestígio junto ao EUA e reforçar sua aliança política com os militares. No ano de 1943, foi organizada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), destacamento militar que lutava na Segunda Guerra Mundial. Somente quase um ano depois as tropas começaram a ser enviadas, inclusive com o auxílio da Força Aérea Brasileira (FAB).
A principal ação militar brasileira aconteceu principalmente na organização da campanha da Itália, onde os brasileiros foram para o combate ao lado das forças estadunidenses. Nesse breve período de tempo, mais de 25 mil soldados brasileiros foram enviados para a Europa. Apesar de entrarem em conflito com forças nazistas de segunda linha, o desempenho da FEB e da FAB foi considerado satisfatório, com a perda de 943 homens. (
Por Rainer Sousa).

”A cobra vai fumar” e “Senta a pua!”, slogans que incentivaram os
 militares brasileiros na Segunda Guerra Mundial.



Soldados da artilharia da Força Expedicionária Brasileira na Itália

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2c/Guerra_anti_submarina.jpg
Navio de guerra da marinha brasileira
enfrentando um submarino alemão

Chavantes na Segunda Guerra Mundial
A reação da população de Chavantes e Irapé contra o  atentado sofrido pela nossa marinha Mercante
Surpreendida pelas notícias do covarde afundamento de cinco dos nossos navios mercantes, que faziam transportes de cabotagem (Cabotagem é a navegação realizada entre portos interiores do país pelo litoral ou por vias fluviais. A cabotagem se contrapõe à navegação de longo curso, ou seja, aquela realizada entre portos de diferentes nações), conduzindo também passageiros e militares, centenas dos quais perderam a vida, a população chavantense possuida de justa indignação suspendeu completamente suas atividades no dia,  como sinal de veemente protesto. Nossa população dirigiu ao sr. Ministro das relações Exteriores, Dr. Oswaldo Aranha, o seguinte telegrama:
“Exmo sr. Chanceler Oswaldo Aranha, Palácio Itamarati, Rio de Janeiro. Solidários sua oração profundamente brasileira saudamos na pessoade sua excelencia nesta hora de intenso nacionalismo eminente Presidente Getulio Vargas e todos os membrosdo Governo. Confiantes ação energica nosso Governo bons brasileiros aguardam ordens eminentes chefes. Viva o Brasil".

Também a população do Distrito de Irapé fez a sua manifestação de protesto pelo inominável atentado, tendo o comércio cerrado suas portas.
À redação do Estado de São Paulo, com muitas assinaturas de pessoas daquele distrito, foi enviado um telegrama nos seguintes termos:
“Distrito de Paz Irapé rodeado oceânicos cafezais representado seu Comercio, Lavoura, Industria, Construtores, Funcionarios, Operarios e Chaufers apela patriotismo ilustre Diretor tornar publico conceituada folha sentimentos profundo pesar vil e traiçoeiro atentado nazista afundando nossos navios e assassinando covarde e miseravelmente nossa gente contra todos os princípios internacionais e humanitários. Solidarios Governo nossa querida Patria. Comercio Fechado. Suspensos divertimentos".

                                  http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/ae/LB%2B114%2BBAEPENDY.jpg
O Baependi, afundado na noite do dia 15 de agosto de 1942,
 pelo submarino alemão U-507, que resultou na morte de 270 pessoas.

Ficheiro:Jornal O Globo 1942.jpg


As notícias abaixo, foram publicadas no jornal
O Município em 1942, 1943 e 1944.




 Interessante notícia sobre o
desaparecimento de Hitler.
 CONTINUAÇÃO




Racionamento em Chavantes - Segunda Guerra Mundial
O racionamento de gêneros e a população rural
Como necessidade imposta pela guerra que desde 1939 flagelou a humanidade, durante muito tempo foi feito entre a população chavantense, o racionamento de gêneros de primeira necessidade estabelecido pelas autoridades superiores com o intuito de evitar, no futuro, falta de artigos necessários ao consumo da população.
Todo o país, embora com diminuição da mão de obra na lavoura, se empenhou em atender o apelo das autoridades.
No entanto, o atual sistema de racionamento causou maiores dificuldades aos habitantes da zona rural, que foram obrigados a deixar a lavoura em dias úteis três ou quadro dias ao mês, para se munirem dos vales de racionamento e adquirir os gêneros necessários.
A Prefeitura tentou amenizar o problema atendendo mesmo fora do horário do expediente mas, mesmo assim, a situação foi bastante difícil.
Ainda em junho de 1946, (a Guerra terminou em 1945) o Prefeito Municipal sr. João Carneiro Filho, seguiu para a capital do Estado a fim de abastecer a cidade de farinha de trigo, indispensável ao nosso pão.
Durante os anos de guerra a escassez de combustíveis dificultou o abastecimento das cidades com gêneros de primeira necessidade. Isso propiciou a alta dos preços e o câmbio negro. Nas indústrias, a falta de matérias-primas e os equipamentos obsoletos criavam transtornos à produção e encareciam o preço final das mercadorias que, cada vez mais, tinham sua qualidade comprometida.
O Governo, através das Prefeituras Municipais,  emitia cartões de racionamento para produtos básicos como came, açúcar e pão, cujos preços eram tabelados.


Modelo de cartão de Racionamento

Com o desenrolar da guerra, o petróleo começou a rarear no Brasil, pois os países produtores reduziram as exportações. Os transportes quer por via marítima, rodoviária ou ferroviária, começaram a se aproximar perigosamente de um colapso. Em consequência foram feitas adaptações nos veículos movidos a gasolina, que passaram a utilizar o gasogênio, aparelho que produz combustível pela queima de carvão. Em 1941 entraram em circulação em São Paulo os ônibus a gasogênio. Outra medida importante foi o racionamento dos derivados de petróleo, decretado em 7 de maio de 1942.
Os problemas na área de transportes repercutiram imediatamente nos outros setores da economia e, em última instância, no abastecimento. Houve uma escassez geral de gêneros alimentícios e produtos industriais, o que provocou uma alta alarmante de preços. Quando, em agosto de 1942, o Brasil declarou guerra aos países do Eixo e entrou formalmente na Segunda Guerra Mundial, as dificuldades se agravaram ainda mais.
A necessidade de transformar a economia imposta pela situação de guerra obrigou o governo a criar, em 28 de setembro de 1942, a Coordenação da Mobilização Econômica, nomeando para presidi-la João Alberto Lins de Barros. A indústria, a lavoura e os transportes, indiscutivelmente os setores mais atingidos pela guerra, mereceram desde logo as atenções do novo órgão. Preocupada com as dificuldades de abastecimento e a "ganância sem limites dos aproveitadores", a Coordenação tentou controlar estoques e organizar o racionamento de artigos de primeira necessidade, o que gerou protestos dos produtores e a formação de um mercado paralelo. Indústrias como as de tecidos, aniagem, calçados e remédios foram submetidas a rigorosa regulamentação, que pretendia obrigá-las a produzir artigos de qualidade a preços inferiores.
O combustível Gasogênio surgiu no Brasil durante a crise do petróleo decorrente da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o racionamento de gasolina imposto pelo governo brasileiro obrigou os motoristas a converter seus carros para funcionar com gasogênio (gás obtido por meio da queima de carvão).
 Mas para ser usado, o gasogênio requeria um equipamento acoplado na traseira dos veículos, ou seja, era preciso adaptar o automóvel para o uso desse combustível. O motor específico para gasogênio funciona com os gases (nitrogênio, hidrogênio, monóxido de carbono, metano) obtidos pela queima do carvão ou da lenha.
Em Chavantes e, em outras cidades também, muitas vezes o combustível acabava e o carro ficava parado na rua. Era necessário pagar um transporte feito em precárias carretinhas que conduziam o veículo até a garagem.
A população descendente de italianos, ficou proibida de escutar programas de rádio. Se os italianos fossem pegos ouvindo rádio, ficavam alguns dias na prisão.

Carro adaptado para usar gasogênio.


 A cidade em festa. Populares, estudantes e professores
aguardando a chegada nos nossos Expedicionários.
Acervo de Vanessa Nogueira

 A cidade em festa. Populares, estudantes e professores e autoridades
recepcionando nossos Expedicionários, que estão no 1º degrau
da escadaria da Estação Ferroviária de Chavantes.
Acervo de Vanessa Nogueira

No dia 2 de fevereiro de 1946, retornou à cidade, o bravo expedicionário chavantense Jacy Nogueira Cobra, filho do major Joaquim Silverio Nogueira Cobra, residente em Irapé.
O jovem militar, que lutou na Itália, encontrava-se internado em um dos hospitais do Rio de Janeiro devido ao congelamento de suas pernas pela ação do frio nos campos de batalha.
Encontra-se completamente restabelecido o digno representante do Brasil, de Irapé e de Chavantes na Segunda Guerra Mundial, junto à Força Expedicionária Brasileira.

Ricardo Viccioli, um expedicionário nascido em Chavantes.
Nasci em 1923, em Xavantes, no interior do São Paulo. Logo que atingi a maioridade fui convocado para ser combatente na Segunda Guerra Mundial. Na Itália, vivi horrores. Inclusive fiquei sob corpos de amigos mortos para continuar vivo. Apenas ouvia o barulho das balas passando. A cada combate, agradecia a Deus e a Nossa Senhora por estar vivo, além de rogar seu perdão. Ao final da guerra, voltei para Xavantes e logo me casei com Carmela Russo Viccioli e em seguida viemos para São Paulo capital”, relembra, emocionado,o senhor Ricardo Viccioli.

EM CONSTRUÇÃO


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